As pesquisas de Dámazio e Ferreira nos remetem
a reflexões de grande relevância no tocante a educação escolar de alunos com
surdez. A abordagem nos coloca diante do confronto entre os gestualista e os oralistas.
Nesse sentido, surgem debates, políticas públicas, pesquisas científicas, ações
pedagógicas numa perspectiva inclusiva com base em princípios baseados em novos
paradigmas, tornando o ser humano descentrado, em que os processos perceptivos,
linguísticos e cognitivos sejam estimulados e desenvolvidos, tornando-os
capazes, produtivos e constituídos de várias linguagens, com potencialidade
para adquirir e desenvolver não somente os processos visuais-gestuais, mas
também ler e escrever as línguas em seu entorno.
Nessa
intenção, o AEE para pessoas com surdez, numa perspectiva inclusiva,
complementa o trabalho pedagógico na escola/classe comum, oferecendo novas
possibilidades para as pessoas com surdez, em que a Libras e a Língua
Portuguesa escrita são línguas de comunicação e instrução. Contudo, mesmo
diante da definição de novas políticas, muitas questões e desafios ainda
precisam ser debatidos. Ações pedagógicas precisam ser revistas e algumas
tomadas de posição e bases epistemológicas precisam ficar mais claras, tanto
nas classes comuns como nas salas de recursos. Um dos pontos é desmistificar a
visão de que a pessoa com surdez é deficiente, simplesmente por não ser. A
perda sensorial auditiva não limita biologicamente as funções perceptivas das
pessoas com surdez. O rompimento desta visão, que tanto prejudica o desenvolvimento
do potencial dessas pessoas é imprescindível. É preciso compreender que o foco do fracasso escolar não
está apenas nessa questão, mas também na qualidade e na eficiência das práticas
pedagógicas. É importante construir um campo de comunicação e interação amplo,
possibilitando que as línguas tenham o seu lugar de destaque, mas que não seja
o centro de tudo o que acontece nesse processo.
Diante
do exposto os estudiosos apresentam propostas que consideram as pessoas com
surdez, o conhecimento e o objeto de estudo elementos que se integram numa
prática educativa voltada para o desenvolvimento das potencialidades das
pessoas com surdez na escola. Nesse contexto, rompe-se com a dicotomização
entre oralismo e gestualismo e assume-se a tendencia bilíngue que possibilita
ao aluno a liberdade de expressão exercitando seu pensamento, desenvolvendo
suas habilidades e promovendo maior interação no mundo social.
De
acordo com o Decreto 5.626, de 5 de dezembro de 2005, as pessoas com surdez têm
direito a uma educação que garanta a sua formação, em que a Língua Brasileira
de Sinais e a Língua Portuguesa, preferencialmente na sua modalidade escrita, constituam
línguas de instrução, e que o acesso às duas línguas ocorra de forma simultânea
no ambiente escolar, colaborando para o desenvolvimento de todo o processo
educativo. Nessa perspectiva, entende-se que a modalidade bilíngue para o
Atendimento Educacional Especializado se constitui num paradigma inclusivo para
a organização das práticas pedagógicas dos alunos com surdez, rompendo com a
clausura do mundo silencioso.
Diante do
exposto, é no viés da modalidade bilíngue que organizamos a prática pedagógica
da escola comum e, em consequência, o Atendimento Educacional Especializado
para pessoas com surdez aqui proposta. As pessoas com surdez têm direito a uma
educação que garanta a sua formação, em que a Língua Brasileira de Sinais e a
Língua Portuguesa, preferencialmente na sua modalidade escrita, constituam
línguas de instrução, e que o acesso a duas línguas ocorra de forma simultânea
no ambiente escolar, colaborando para o desenvolvimento de todo o processo
educativo, evitando a segregação e discriminação no contexto educacional.
Referência
DAMÁZIO,
M. F. M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com Surdez-Atendimento
Educacional Especializado em Construção. Revista Inclusão: Brasília: MEC,
V.5, 2010. p.46-57.
BRASIL.
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.
Brasília: MEC, 2008